30 de outubro de 2015

BRASIL RIDE 2015: SETE DIAS E SETE ETAPAS. NÃO É À TOA QUE O SETE TEM SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO

Entre os dias 17 e 24 de outubro, a cidade de Mucugê, no interior da Bahia, tremeu. Foram sete dias de Brasil Ride, com a partição da dupla Letícia e Erika. Confira abaixo como foi cada etapa do evento:

STAGE 1

O desafio começou com um prólogo, uma prova técnica e rápida, porém desgastante. A princípio, foi pensado que, por ser a primeira etapa, haveria uma economia de energia para os dias seguintes. No entanto, não foi isso o que aconteceu. Já nos primeiros metros após a largada, notou-se um ritmo intenso. Letícia, que realizou a prova com o tempo de 1h19min, conta sobre sua performance na etapa: "Uma etapa de pura força. Pedalei no meu limite. Minha frequência cardíaca chegou a 202 batimentos por minuto. Não me senti muito à vontade nos trechos mais técnicos, parte onde procuro me destacar. No final, senti um forte cansaço e com uma dúvida sobre as próximas etapas: Será que vou conseguir?"

A dupla Letícia e Erika  estrearam  com a terceira colocação geral entre as duplas femininas.

STAGE 2

A segunda etapa, a mais temida do Brasil Ride devido aos seus 147 quilômetros, colocou todo o treinamento da dupla à prova. Letícia e Erika, acostumadas até então com provas de Cross Country Olímpico, que são mais curtas e explosivas, tiveram que enfrentar uma etapa com uma quilometragem bem acima dos eventos que as atletas estão habituadas a participar. Foram mais de 10 horas de prova, sob um forte sol. A interação entre a dupla foi fundamental para o sucesso da mesma.

"Não tinha muita noção sobre o que estava por acontecer. Esta foi minha primeira prova com mais 100 quilômetros em apenas um dia. Consegui dosar a energia para cumprir o nosso principal objetivo: atravessar a linha de chegada. Para minha surpresa, me senti bem. Terminei a etapa já pronta para a próxima." relata a atleta.

Após 10h20min de competição, a dupla chegou na quarta colocação, caindo uma posição no tempo acumulado. Ainda faltavam cinco largadas.

STAGE 3

Uma etapa para o Cross Country. Foram quatro voltas em um percurso de 7,7km. Apesar da especialidade nessa modalidade para as duas integrantes da dupla, não foi fácil. Mesmo sendo um dos dias mais duros na opinião da Letícia, a atleta finalizou na quarta colocação geral, conseguindo fazer três voltas e Erika duas. "Larguei para o tudo ou nada. Nos meus últimos treinos, praticamente não treinei a modalidade XCO, mas queria fazer o meu melhor. Senti muito durante as partes técnicas. Faltou mais explosão."

STAGE 4

Uma etapa dedicada à superação. A dupla mantinha um ritmo constante e, ao encostar nas líderes da América, houve um problema na roda da Letícia. Seu free hub travou. Isso fez com que as atletas perdessem alguns minutos, complicando a situação na prova.

Após uma "gambiarra", a dupla avistou um barraca de apoio da Shimano, aonde havia uma roda a ser emprestada, possibilitando a conclusão da etapa. "Imprevistos sempre acontecem. Esse foi mais um. Competir um Brasil Ride é estar preparado para isso." relata a atleta.

Mesmo com os problemas mecânicos, a dupla cruzou os 84,7km na quarta colocação, com o tempo de 06h28min, mantendo a quarta colocação no tempo acumulado total.

STAGE 5

94,7km a serem superados com largada às 07h da manhã. Foi uma etapa dura, sofrida. Uma das etapas mais longas do Brasil Ride, exigindo uma boa concentração da dupla. A prova estava encaminhando para a reta final. À frente havia apenas mais duas etapas. Foi necessário se poupar, para chegar nos últimos dias bem, à procura de uma reação. "Os pontos mais complicados no circuito, para mim, foram nas partes em que foi necessário transpor as caixas de areia e a subida da serra de asfalto. Estava ciente da minha condição e focada na estratégia de chegar preparada para os dois últimos dias de prova."

Após 07h16min de prova, a dupla finalizou novamente na quarta colocação.

STAGE 6

Penúltimo dia de prova. A tensão da reta final já estava à flor da pele. Era mais um dia com a quilometragem acima dos 100km, mais especificadamente, 143,4km. A dupla, junto às líderes, largou em um ritmo alucinante em busca do melhor tempo. "Eu estava em um dia ótimo. Nos mantemos entre as líderes após a largada. esperando tirar proveito disso. No entanto. minha parceira, preocupada com o restante da prova, pediu para diminuirmos o ritmo. Fomos assim até o final. Chegamos inteiras para disputar a última etapa no dia seguinte"

Com 9h13min de prova, a dupla finalizou a etapa na terceira colocação, subindo um posto na classificação geral por tempo acumulado.

STAGE 7

Enfim, chegou o grande dia: o dia do tudo ou nada. Nada ainda estava decidido, tudo poderia acontecer. Qualquer problema físico ou mecânico poderia ser o suficiente para levar todos dias de prova por água abaixo. Era o dia de fazer força, sem perder o cuidado com a bike. Não havia mais a necessidade de dosar energia para o dia seguinte. Independente do resultado, após o cruzamento da linha de chegada, seria um dia de glória. A conclusão da maior ultramaratona da América estava por acabar. Faltavam apenas 77km para o fim deste desafio. Mas o que são 77 km comparados às centenas de quilômetros já realizados? Muito. Muito porque esses não são quaisquer quilômetros, são os últimos 77.000 metros da última etapa de um desafio que, até então, parecia infinito.

A dupla, com o tempo acumulado, sustentava a terceira colocação no pódio na classificação geral. Mas isso não importava naquele momento. A dupla queria se doar, dar o seu melhor nesse último dia de desafio. Erika estava em um dia bom, se doou juntamente com Letícia nesse dia e, após 3h32min de prova, as ciclistas cruzaram a linha de chegada na segundo colocação geral entre as duplas femininas.

"Desde a largada, estive com um sentimento de vitória. Não pelo resultado, mas sim por lembrar de cada momento que passei para estar ali, no último dia, em pé. Passou um filme na minha cabeça sobre cada etapa, cada acontecimento tenso ou divertido. Após a largada, saí agressiva. Queria me sacrificar nessa etapa como nunca antes, e tive sorte. Nesse dia, minha parceira, Erika, compartilhava do mesmo sentimento, e então pude prosseguir com o meu objetivo. Foi massa! Foi top! A cada quilômetro eu me sentia mais alegre e realizada. Após concluir todo este desafio, não contive as lágrimas. Passamos pela linha de chegada em segundo lugar geral!"

Após todo o desafio concluído, a comoção foi geral. Sete dias de convivência, companheirismo, conflitos, garra e superação. A dupla se doou como pode, pedalou como pode e chegou em um "novo limite" até então desconhecido. O terceiro lugar, merecido, levou as garotas do Cross Country para um outro patamar nesse tipo de prova. Foi um sucesso!

Como tudo na vida, a realização deste sonho não foi algo conquistado por um ou dois indivíduos. Há uma equipe, ou melhor, uma família por trás disso tudo. Para chegar em Mucugê, Letícia contou com diversos apoios, como a Equipe Focus XC Team Brasil, a assessoria de treinamento OCE e os apoios regionais, como as empresas Delta Service, Blindex, Bike Podium e LTFotografia, situadas em Ouro Branco/MG, cidade em que a atleta reside atualmente.

O próximo desafio da atleta será a última etapa da CIMTB em formato maratona, que acontece entre os dias 6 e 8 de novembro, na cidade de Congonhas/MG.

Por: Gabriel Carlos


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